Power Stone é um clássico inesquecível (e nada demais)

No século 20, as pessoas acreditavam fortemente no início da era 3D como uma revolução nos videogames, e Estúdios Lendários buscando fortuna e glória procuravam pelo mundo um Lendário Jogo de Luta com o poder de realizar qualquer sonho. Esse jogo é conhecido como “Power Stone”.

Bem-vindos ao mundo de Power Stone! A tentativa da Capcom de um jogo de luta extremamente acessível usando de modelos poligonais belíssimos e muitas mecânicas de Super Smash Bros.!

Power Stone

No fim dos anos 90 os jogos de luta, começaram a entrar na terceira dimensão, e Capcom teve algumas boas tentativas nesse novo universo. Rival Schools, Star Gladiator, Street Fighter EX… todos (e eu digo todos) bons jogos, mas ainda não mostravam o que o 3D poderia trazer de novo para o gênero. É claro que mais possibilidade de movimentação era a mudança óbvia que os jogos traziam, mas Capcom não era uma empresa que fazia apenas o básico e deixava por isso.

Tekken e Virtua Fighter estavam dominando o mercado 3D, e não é pra menos considerando o quão bem os dois usavam desse novo visual. Se Capcom queria competir com eles, não podia seguir caminhando por passos já dados. Foi aí que eles pensaram em uma ideia revolucionária que mudaria os fightings pra sempre: Power Stone.

Com as circunstâncias do nascimento de Power Stone já erguidas, precisamos falar sobre o que ele é. Power Stone é um jogo de luta top-down em que os personagens podem andar livremente pela fase e usar do cenário como uma arma. O jogo mais similar a ele (que realmente tenha sido influente) é Smash, e é provavelmente a maior inspiração. Uma pesquisa rápida faz com que você encontre jogos similares a Power Stone e Smash saindo antes deles, mas a inovação nem sempre é quem fez primeiro, mas quem fez melhor… ok, isso foi bem pretensioso e os jogos anteriores devem ter sido bem legais, mas a questão é que Power Stone foi revolucionário mesmo que você não conheça o jogo.

Elenco vibrante, animações belíssimas, fases divertidas, Power Stone era um prato cheio na época e ainda é hoje em dia. Enquanto Smash é competitivamente jogado sem itens e em fases com o mínimo de armadilhas possíveis, esses conceitos fazem de Power Stone o que ele é. O fator sorte é de fato bem alto, mas por conta do layout dos cenários e do balanceamento, itens são bem menos quebrados aqui em Power Stone e, sem eles, o jogo não funciona. Na verdade, as próprias Power Stones são um item principal do jogo!

Power Stone

Power Stone tem poucos botões. Você pode pular, dar socos, chutes e com alguns macros, usar throws e Supers (quando transformado). Existem alguns combos simples combinando socos e chutes também! As fases são sua arma, e você pode usar cadeiras, postes, paredes e até se pendurar no teto. Para vencer seu oponente, a movimentação e criatividade é essencial… até que as Power Stones surgem.

Três delas podem aparecer na partida, e o round já começa com uma para cada. Para roubar a Stone do seu adversário, você pode acertá-lo com um item, divekick ou com o último hit de um combo qualquer. A terceira pedra aparecerá no mapa depois de um tempo e, quem pegar três, pode se transformar com Power Change em um herói de tokusatsu. Durante a transformação, seu personagem possui armor (não pode ser stunnado) e seu moveset muda para algo muito mais forte e destrutivo, como projéteis insanamente rápidos, tornados, normals absurdamente longos ou teleportes. Ao pressionar R ou L, você pode utilizar um de dois Supers disponíveis, e assim que usar, a transformação termina.

Power Stone

A única maneira de vencer as transformações é com throws que, além de diminuir muito a barra das Power Changes, causa Stun de fato. Você também pode atacar para diluir a barra, mas é bem mais perigoso do que só fugir até terminar a transformação.

Bem, Power Stone apresentado. Lembrou você de alguma coisa? É um jogo que, de fato, é bem mais obscuro do que deveria pela influência que teve. Claro, Smash mudou muito mais os jogos, mas você já jogou algum party fighting game meio isométrico assim? Shrek, Simpsons, Tom & Jerry, Big Farm… muitos jogos tentaram fazer combate nesse estilo depois de Power Stone. Visão isométrica, itens pelo cenário e tudo mais. Algumas pessoas dizem que o gênero Arena Fighter teve algumas raízes em Power Stone também! Mas isso é debatível. É possível que seu jogo de anime favorito tenha algumas coisas para agradecer à Capcom!

Mas Power Stone é bom? Tipo, de verdade? Eu sou fã de Power Stone desde pequenininha, por mais bizarro que isso pareça. Tenho muita conexão com alguns jogos de Dreamcast que me pergunto até hoje quais eram as chances de eu ter jogado cada um deles, mas é óbvio que Power Stone 2 foi um deles… e aí eu joguei o 1 na versão de PSP um pouco depois. Quando criança eu amava muito esse jogo e o modo aventura que o 2 tinha, adorava os personagens, os gráficos e o multiplayer. Mas, e hoje em dia?

Power Stone

Sendo bem honesta… mais ou menos? Power Stone é um pouco melhor do que eu achei que seria em retrospecto, mas também não mudou minha vida. É claro, o visual, as músicas e o elenco são maravilhosos, mas o combate em si não é nada demais. Tem certa profundidade na movimentação e no uso inteligente dos cenários e suas peculiaridades, mas fica repetitivo e um pouco fácil. Apesar de ter um sistema de desvio único (similar a um parry em ativação), não é tão divertido quanto Smash ou mesmo os outros jogos de luta da Capcom. O fator de sorte dos item spawns é um problema menor do que aparenta, e é até divertido usar as espadas, jogar caixas, atirar com Revólver e tal mas… sabe, podia ser bem melhor também. Não é um party game absurdo nem um jogo de luta absurdo, e acaba ficando em um meio termo levemente enjoativo.

Power Stone

Tem alguns coletáveis legais e minigames divertidos para o DMU na versão de Dreamcast, mas é o tipo de jogo perfeito para dar umas boas risadas com amigos e depois largar. Claro que não é ruim, nem tão esquecível quanto alguns jogos de anime que falei sobre antes (One Piece Grand Battle 1 e 2), mas acaba… sendo parecido. Minha memória afetiva com Power Stone me faz gostar muito mais dele do que um fã de fighting comum acabaria gostando, mas é um jogo difícil de se ligar muito depois de algumas horas.

Ainda assim, existem ótimas ideias nele que poderiam ser mais aprofundadas. Uma que eu gosto bastante é o round start, que permite que os jogadores se movam livremente pelo cenário antes de poderem se atacar. Tomemos como exemplo a fase do Valgas, provavelmente a mais balanceada do jogo.

Power Stone

No início, ambos os jogadores começam do lado de uma caixa. Ambos podem usá-la para jogar no oponente, mas existem diversas maneiras de fazer isso. Empurrar, chutar, lançar para trás (passando por cima), agarrar e jogar, agarrar e jogar no ar, não jogar em geral apenas para enganar o oponente, esperar seu adversário lançar para pegar e lançar de volta (difícil), ou apenas ignorar completamente a caixa. Também tem um trono na parte mais funda da fase, arremessável. A mudança de timings em um tiro também mudam completamente a interação e, se alguém for acertado pela caixa, perde uma pedra. No entanto, você pode apenas fingir que vai usar a caixa e se aproximar do oponente quando ele for tomar alguma ação a usando, e, claro, reagir a qual for.

Power Stone

Essa é apenas uma das fases, e usando um objeto de exemplo. Outras fases possuem mastros, telhados para se pendurar, mais objetos, candelabros para soltar… e embora você não possa tomar nenhuma ação até o narrador deixar, ainda existem diversas estratégias de posicionamento interessantes que fazem do round start muito mais profundo do que é em um jogo como Street Fighter, em que todos começam completamente parados. É claro, round start é profundo em muitos jogos, mas em nenhum é tão legal quanto em Power Stone!

Power Stone

E, apesar de não ser um jogo muito profundo, é difícil dizer que não há algo além da superfície. Os combos, que costumam ter quatro hits, possuem variações interessantes para diferentes ocasiões. Até alguns melhores para acertar inimigos em terreno desigual, como acima ou abaixo de você. Alguns combos lançam inimigos para trás, para cima, para frente, ou tiram duas Power Stones (como os do Gunrock). Cada personagem é bem único também e tem suas próprias strings divertidas. Meu favorito é Ryoma! Amo samurais e ele tem uma segunda espada que usa em alguns combos.

Até mesmo os clássicos arquétipos de personagem existem aqui. Gunrock, Galuda (sim, esse é o nome dele) e Valgas são grapplers, por exemplo. Existem diferenças na movimentação dos personagens, nos throws, nas ações que eles podem tomar com objetos no cenário… enquanto muitos podem girar em mastros para atacar com uma rasteira, alguns personagens são fortes o suficiente para arrancar os postes e atacar usando eles. E, claro, além das sutis diferenças em gameplay, você com certeza vai pegar um personagem por gostar dele. Acho até interessante que existem muitos personagens com pele escura nesse jogo! Gunrock, Rouge, Galuda, Valgas… são muito carismáticos e constituem uma porcentagem absurda do elenco! Apesar de que algumas pessoas possam ver os designs como estereotipados (eles são), ainda tem bastante charme. Não posso dizer se são inofensivos ou não, só que… não parecem ser? Bem, não é meu lugar de fala porque não tem um personagem brasileiro aqui.

Power Stone

Como adicional por jogar na versão de Dreamcast, tem alguns conteúdos desbloqueáveis no singleplayer. O mais clássico são os personagens secretos: Valgas, Kraken e Final Valgas (banido por ser forte demais), mas também tem os minigames de VMU que mencionei, itens novos e, mais do que tudo, um modo em terceira pessoa. E dá pra jogar em tela dividida nele! É muito divertido apesar de não ser muito bem feito. Digo “bem feito” de uma forma inofensiva porque eu não ligo nada, é um bônus muito divertido apesar de algumas paredes não existirem (o jogo não foi pensado pra essa perspectiva). Ah, também tem opções extras como aumentar o número máximo de Power Stones, mexer no dano causado e recebido nas transformações (eu usei bastante esse), habilitar ou não itens extras e por aí vai. É um jogo razoavelmente completo!

Power Stone

No final, o que eu tenho a dizer é que Power Stone vale seu tempo, mas saiba que vai ser um tempo curto. Tem pouca coisa para te prender nele, mas não deixa de ser uma experiência muito boa no gênero e um marco significativo na lista de influências da Capcom, que é bem vasta por sinal. Agradeço a leitura, e boa noite pra vocês!

Todas as imagens foram retiradas de uma gameplay não muito boa do meu canal! Fica aqui o shameless plug.