Superliminal é fenomenal e singular – Análise

Superliminal

Superliminal é sem dúvida um dos jogos mais únicos dos últimos anos. Nele, as leis da física funcionam de maneira completamente diferente da realidade, seguindo a lei que sua percepção de uma ilusão de ótica é a realidade, e buscando construir quebra-cabeças em cima deste estranho conceito, combinando isso com a utilização de espaços liminares.

Espaços liminares e Superliminal

O conceito de espaços liminares é uma clara inspiração para o design visual de Superliminal. A definição de um espaço liminar é solta, mas pode ser interpretada como algum lugar que passa uma “sensação de desconforto”, pois é feito para ser usado somente como passagem e não como uma moradia ou um espaço social.

Lugares como escolas e aeroportos vazios podem ser considerados espaços liminares, pois aquilo que os dá propósito (o tráfego de pessoas) não é presente.

Superliminal utiliza desse conceito para dar uma sensação de desconforto, que percorre por toda a duração do jogo e é acompanhada ainda da maneira surreal em que leis da física são aplicadas naquele mundo. Restaurantes vazios, exposições vazias, uma IKEA vazia, todos esses espaços são feitos especificamente para acomodarem diversas pessoas e estão sendo explorados pelo jogador sozinho (por vezes acompanhado do narrador).

A História

A história é simples, mas intrigante. A Protagonista é uma pessoa que se inscreve para um teste de uma nova tecnologia do Pierce Institute, o Somnasculpt, que é um tipo de sonoterapia que envolve induzir sonhos lúcidos onde a consciência e o controle do paciente ficam intactos.

O tom que o enredo passa é de várias maneiras similar ao de The Stanley Parable, outro jogo Indie que possui um narrador misterioso que acompanha a jornada do personagem com uma execução parecida de espaços liminares, mesmo possuindo uma gameplay completamente diferente.

Em Superliminal, dois narradores estão presentes, mesmo aparecendo pouco durante o jogo. O principal Narrador é o dono da tecnologia Somnasculpt, que acompanha a Protagonista em sua terapia dentro dos sonhos por meio de rádios. Já o outro narrador vem de gravações sintetizadas que servem de guia pré-programado, comentando sobre eventos importantes e sobre as consequências dos acontecimentos dentro dos sonhos lúcidos.

A história realmente não é o foco do jogo, porém ela é um bom ponto inicial de intriga e serve bem para deixar claro o tema principal do jogo, que é revelado somente no final. Ela não é muito complexa, nem muito desenvolvida, mas mescla bem com a gameplay e nunca interrompe o flow do jogo.

A Gameplay

Esta é definitivamente a parte mais complicada e bem trabalhada de Superliminal. O jogo conta com controles básicos de movimento, além da opção de pegar, reposicionar e rodar objetos a fim de resolver vários quebra-cabeças peculiares, mas é a maneira que essa mecânica FUNCIONA que é interessante.

Um objeto segurado, dependendo da perspectiva dele em relação ao jogador, é redimensionado para refletir o tamanho em relação à dita perspectiva; ou seja, se um cubo for colocado próximo ao chão, onde ele parece ser “menor” para o jogador, ele realmente fica pequeno. Já se você segura um cubo acima da sua cabeça, ele fica “gigante”, e realmente aumenta de tamanho.

Essa é sem dúvida a mecânica mais bem utilizada do jogo, e se mantém surpreendente até o fim.

Superliminal contém 9 capítulos no total, com uma duração total de cerca de 3 horas. Cada capítulo foca em uma mecânica diferente que deve ser levada em consideração pelo jogador ao resolver os quebra-cabeças. O capítulo que mais me impressionou destes foi o 6º, Dollhouse.

Nele, o foco é redimensionar casas e outros objetos inteiramente por fora, e então resolver os quebra-cabeças contidos dentro deles, que também são alterados em relação ao tamanho dimensionado pelo jogador. Mesmo assim, todos os outros capítulos continuam ótimos e não são enjoativos.

A Trilha Sonora

As músicas contidas no jogo são calmas e confortáveis, muitas vezes lembrando músicas de elevador ou ambientes corporativos, contendo predominantemente pianos.

Algumas destas músicas receberam remixes no estilo Lo-Fi pelo artista 2 Mello e encaixam muito bem com a experiência oferecida pelo jogo. Algumas peças são mais ambientes e levemente arrepiantes, e são reservadas para momentos em que o objetivo realmente é fazer o jogador sentir desconforto.

No final, Superliminal, vale a pena?

Com seu preço de R$37,99 na Steam, é um pouco salgado para sua duração, porém é uma experiência que vale a pena ter de tão única e bem executada que é. Os itens colecionáveis dentro do jogo e as conquistas podem aumentar a curta duração se necessário, e a experiência compacta acaba ajudando a obra a chegar ao seu objetivo.

Se o preço ainda for um problema, fique de olho em promoções futuras, pois ele merece uma chance.

Confira o trailer:

Uma cópia gratuita de Supeliminal para a plataforma PC foi concedida pela Pillow Castle para análise no Recanto do Dragão.