Kamen Rider W é a base para uma nova era (Análise)

Kamen Rider W análise

Este texto faz parte de minha série onde analisarei todas as 25 séries de Kamen Rider mais populares no japão, me baseando nessa pesquisa da NHK. Se estiver afim, você também pode conferir os outros textos da série já feitos clicando aqui.

As obras da vez são “Kamen Rider W”, que ficou em segundo lugar, e seu filme “Kamen Rider W Forever: A to Z / Gaia Memory of Fate”, que se encontra na 19ª posição. Ou seja, mais um texto em dobradinha.

Kamen Rider W

Estreado em 6 de setembro de 2009 e finalizado em 29 de agosto de 2010, esta série possui um total de 49 episódios, 6 filmes e 2 especiais. É a 20ª versão da franquia, antecessora ao “Kamen Rider OOO” e sucessora ao “Kamen Rider Decade”. “Kamen Rider W” foi o show da Toei responsável por introduzir a era Heisei Fase 2 no Japão.

Ano novo é sinônimo de tempo de mudanças, então imagine uma nova era, tanto para nós no presente quanto para Kamen Rider. Novas logísticas, nova tecnologia, nova economia, novas ideias, novo imperador, novas políticas, novos atores e novas histórias. Heisei Fase 2 foi o marco para mudanças e uma peça fundamental para formar a imagem da obra Kamen Rider atualmente.

Em comparação com sua fase anterior, os visuais tiveram uma mudança gigantesca. Na fase 1 as cores preto e vermelho eram extremamente predominantes, enquanto na fase 2 temos uma vasta coleção de armaduras com esquemas diferenciados: trajes rosas, laranjas, verdes “marca texto”, azul com vermelho, verde com preto, roxo, armaduras de 3 cores predominantes e até outras inteiramente brancas. Definitivamente é uma mudança perceptível na direção artística.

Kamen Rider

Apesar de eu não ter encontrado uma justificativa do porque a era Heisei foi separada em duas partes, eu imagino que foi por conta da data de falecimento do criador da franquia Kamen Rider, Shotaro Ishinomori, que foi em 1998. As obras da fase 1 costumavam honrar o nome de seu criador ao creditá-lo no início de todos os episódios.

Era uma forma de agradecimento por criar essa franquia e honrá-la com a sua continuação. Então acho que é seguro afirmar que a fase 1 ainda tinha forte influência das ideias originais de Ishinomori, e a fase 2 era mais livre e aberta para mudanças nas obras. Visto que na época das duas fases o imperador Akihito ainda estava no trono, e que sua abdicação foi em 30 de abril de 2019, é a partir dessa data que se inicia outra era do Japão, a era Reiwa.

Com “Kamen Rider W” foi diferente, mas mesmo assim ele não se aprofundou muito na mudança. Pode-se dizer que ele serviu mais como base para as mudanças que viriam no futuro.

O fato dos personagens Shotaro Hidari e Phillip se fundirem ao se transformarem, onde um controlava o lado esquerdo e o outro o lado direito do herói, respectivamente. O fato da armadura ter duas cores, verde e preto, e que suas formas alternativas possam mudar apenas a cor de um dos lados.

Essa rede interminável de novos fatores criariam uma identidade única e extremamente criativa para W, e é por isso que ele pode ser chamado também de “Kamen Rider Double”. Ele incorpora ideias novas que foram muito bem pensadas, sutis e permitem que a obra se destaque de forma bem memorável.

Como os protagonistas da história temos Shotaro Hidari, um detetive particular que se auto proclama “hard boiled“: em outras palavras, um durão. Seu companheiro chamado Phillip é um jovem misterioso com um intelecto descomunal. Ele tem uma habilidade peculiar que consegue acessar a Biblioteca Gaia, onde ganha acesso a toda a informação do mundo, algo que obviamente vem a calhar no trabalho deles.

Juntos, esses dois personagens são um só, “Kamen Rider Double”. O protetor da cidade ecológica, Futo, utiliza os aparelhos Gaia Memory, que se assemelham a um USB que concede poderes únicos ao usuário. O herói protege a população daqueles que se corromperam com o uso excessivo das próprias Gaia Memory, distribuídas por uma associação maligna chamada Museum.

Com uma história bem direta e um fluxo de narrativa bem gostoso de consumir, “Kamen Rider W” tem o ritmo perfeito. Tudo tem seu tempo e apesar de nem todos os episódios serem importantes para a trama principal, eles ainda acabam ficando no mínimo engraçados de assistir.

Eu não senti que estava perdendo meu tempo assistindo um episódio que não tinha nada a ver com a trama principal. O protagonista ser um detetive deixa esses tipos de episódios ainda mais dinâmicos, porque passam uma sensação de que estamos acompanhando sua rotina diária, não só como “herói” mas como o único que pode resolver esses casos. É também uma ótima maneira de conhecer Shotaro como pessoa.

Desses 3 textos que já escrevi até agora, esse daqui com certeza foi o que eu escrevi menos sobre a trama principal e, sinceramente, eu gosto disso.

Os vilões e seus objetivos ficam bem coesos na trama, como o que almejam alcançar, como suas ações ao longo da narrativa influenciaram no objetivo final deles, como os protagonistas têm, tiveram e terão envolvimento com seu objetivo final, quando os vilões são derrotados, como a nova ameaça reage em relação à esse acontecimento, e por aí vai. E todas essas perguntas podem ser colocadas novamente para o segundo vilão da série.

Sua temática de pendrive (sim, você leu direito, pendrive) é interessante. Não é um brinquedo muito divertido de carregar por aí sem o cinto mas tudo bem. O cinto de Shotaro é pequeno, simples e elegante; ele me lembra muito um que é visto futuramente em “Kamen Rider Build” (análise a caminho™) por conta do design e pela necessidade dos dois de inserirem dois aparelhos para poderem se transformar.

No caso de “Kamen Rider W” há uma interação com os protagonistas, onde apenas um fica consciente ao se transformar, devido ao fato de que ambos controlam o mesmo corpo.

Na questão de transformação não tem tanto o que falar. A interação previamente citada é boa, a transformação em si é simples e rápida, do jeito que eu gosto. O jingle ao se transformarem também é bom e não fica irritante depois de escutar diversas vezes, enquanto os efeitos visuais durante a transformação são bem feitos (para a época) e, tirando o fato de que apenas um dos protagonistas fica consciente, a transformação em si não é tão inconveniente.

Algo interessante que eu pude observar é como os protagonistas recriam o formato da letra W com os braços ao se transformarem. Essa série é cheia de detalhezinhos escondidos, não é?

A armadura e formas alternativas seguem o mesmo conceito. Duas cores, uma para cada metade e uma linha separando-os no meio. Eu gostei bastante desse estilo. O cachecol presente no traje e o fato de que esse acessório pode ser considerado uma referência ao “Kamen Rider” clássico, o primeirão, deixa tudo ainda melhor.

A maneira que o combate dessa temporada foi estabelecida é bem clássica, onde o herói não usa espada ou arma de fogo na sua forma base, é tudo na base do soco e do chute. Suas outras formas alternativas fazem o uso de armas de fogo e um bastão, e eventualmente sua forma final usa uma espada e escudo adicionais ao guarda roupa.

O uso de um bastão como arma é bem diferente considerando o que foi visto até então. Posso estar enganado, mas até onde eu sei, “Kamen Rider X” lá na era Showa era o único que utilizava tal arma branca como instrumento principal. Talvez isso seja mais uma referência presente na obra sobre os antepassados da franquia.

Eu amo os vilões principais, em todos os sentidos. Os membros da associação Museum são uma família, o que torna a sua relação uns com os outros mais forte e entra muito em sincronia com os heróis. A derrota de cada membro da família é repleta de emoção. Depois que toda a trama relacionada ao objetivo da família é apresentada eu não pude sentir nada além de pena deles, é tudo muito emotivo e belo.

Além dos principais, também temos os vilões semanais, como de costume. Cada caso que o detetive assume está relacionado à uma Gaia Memory diferente, logo, um design diferente de vilão, sem repetição. O clássico. é assim que se deve fazer um vilão semanal, ou com designs diferentes sempre, ou como apenas lacaios para um mal maior que entra em constante conflito com o protagonista.

No caso de W, foram poucas vezes que os vilões principais tiveram que lutar contra os protagonistas, e isso é ótimo porque gera uma tensão maior à narrativa e deixa ainda mais claro o quão forte eles são.

Vários dos meus sentimentos positivos até agora podem ser aplicados de um jeito ou de outro para sua trilha sonora também. Eu adoro jazz e músicas ligadas à detetives, e aqui o tom divertido da a abertura e seu começo seguem à risca essa temática de detetive.

O tema Nobody’s Perfect usado no episódio onde a forma evolutiva mais forte é obtida foi muito bem executado, no sentido que a letra reflete o que estava ocorrendo no episódio simultaneamente para borrar a linha entre o meio artístico da música e a cinematografia.

Em um outro episódio onde a dupla assume um caso, eles simplesmente começam a cantar uma música chamada Finger on the Trigger e acaba sendo um cover perfeito para esse tema do herói.

Cenas como essas me deixam extremamente feliz. Apesar dos personagens estarem em serviço e tentando salvar a cidade, há sempre um momento extremamente engraçado. Espero que as temporadas futuras me proporcionem mais cenas hilárias como essas.

A evolução de personagem dos Riders é extremamente bem executada, Shotaro Hidari era um homem que se dizia ser casca grossa, mas conforme os episódios vão se passando vai ficando perceptível que ele é extremamente sentimental, e todos em sua volta vivem apontando esse seu lado sentimental. Phillip era introvertido inicialmente, mas que no final ele mesmo admite que mudou e percebeu que passou a gostar de ficar rodeado de pessoas das quais ele pode chamar de amigos.

O Rider complementar Ryu Terui deixa de ser um personagem agressivo e obcecado por vingança para se tornar um personagem mais alegre, gentil e que até entra em um relacionamento amoroso muito fofo com sua chefe do escritório de investigação, Akiko Narumi.

Todos esses 3 personagens evoluem de uma maneira bela e gratificante. Junto dessa evolução vem o senso de justiça, onde apenas eles podem salvar a cidade, e eles não podem perder a cabeça, um tema recorrente de “Kamen Rider”.

Analisando novamente a obra, sinto que não tem nada nela que eu não gostei. Houveram poucos efeitos sonoros repetitivos, por exemplo, mas a comédia acertou em cheio, dentre vários outros pontos positivos. Meu bloco de anotações para pegar prints de momentos engraçados acabou ficando enorme. 

De resto também tiveram vilões maravilhosos e bem estruturados lutando contra heróis (também!) maravilhosos e bem estruturados, numa narrativa (TAMBÉM!!!!) maravilhosa e bem estruturada, acompanhada de uma trilha sonora do caralho. O design visual de armadura, armas, monstros e cenografia são todos lindos (também :)).

A única coisa que eu posso afirmar que não gostei é do CGI mesmo, mas como comentei em outros textos eu compreendo que é caro fazer computação gráfica boapara um produto desse tipo, e eu ainda vou relevar porque comparado aos outros conteúdos da época em que foi gravada, os efeitos já eram tecnicamente muito bons.

Talvez o único ponto negativo que realmente não tem desculpa é a existência da moto tanque. Eu não sei o que é aquilo, mas é feio.

É um veículo enorme que ocasionalmente era utilizado como forma de fuga para os protagonistas em situações de grande risco, e que devido ao seu tamanho e resistência conseguia derrubar vários vilões fortes e levar os personagens em segurança.

O problema é que ele é inteiramente feito em CG. Sua existência é completamente desnecessária. Dentro dele há outros módulos para serem acoplados na moto e assim fazer com que ela possa, por exemplo, voar, utilizar um turbo, entre outros upgrades à sua disposição. É um conceito interessante mas que no final poderia ser realizado de qualquer outro jeito, que não por meio dessa coisa horrorosa.

Ainda na parte de CGs, há alguns casos no qual os usuários de Gaia Memory ficam completamente corrompidos pelo seu poder e viram um monstro enorme, feito também inteiramente em computação gráfica. Felizmente isso acontece poucas vezes, e só no começo da série, mas se fosse recorrente teria me deixado muito mais incomodado.

Isso sem nem comentar a brilhante ideia que alguém teve em fazer o rider secundário poder se transformar numa moto (tipo um transformer) só que pior. Ok, está certo que a temática do rider secundário segue a estética de uma moto, mas isso já é um pouco demais. Fica estranho e destrói o visual de sua armadura.

Kamen Rider W análise

“Kamen Rider W” foi muito bom e engraçado. Eu nem sabia muito bem como falar dele. Parecia que eu estava assistindo uma obra onde acompanhava o cotidiano de um detetive incomum, mas no final das contas era realmente isso que eu estava vendo.

A simplicidade da narrativa se encaixa muito bem com a complexidade da história. Haviam episódios aleatórios tão bem feitos que acabaram nem parecendo desnecessários, e a atuação (entre outros talentos) dos atores dos personagens Shotaro Hidari e Phillip é incrível.

A comédia é certeira. Todos os episódios tem pelo menos uma cena cômica. O relacionamento entre os personagens é hilário e me deixou com muita vontade de rever a temporada toda, algo que eu realmente estou considerando fazer. Juntamente com Den-O, W me acolheu muito, me fez rir bastante e acabou me comovendo diversas vezes.

Agora só falta ver seu intrigante irmão…

Kamen Rider W Forever A to Z / Gaia Memory of Fate

A partir de agora irei encerrar falando sobre o filme de “Kamen Rider W”, estreado no dia 7 de agosto de 2010. Como dito no começo dessa análise, o filme se encontra na 19ª posição da pesquisa.

O filme se passa mais ou menos entre os acontecimentos dos episódios 44 e 45 da série. O vilão da vez se chama Katsumi Daido, que após invadir um helicóptero da Foundation X, roubar algumas T2 Gaia Memorys e sobreviver à explosão desse helicóptero, lamenta com seus companheiros que ele não conseguiu roubar todos os pendrives da maleta no veículo. Daido ordena então que seu time faça uma busca pela cidade, com o objetivo de capturar todas as Gaia Memory que encontrarem.

Muito confuso? Não se preocupe, já já eu contextualizo tudo. Como eu havia dito, esse filme se passa entre a narrativa principal da obra “Kamen Rider W”. Em alguns episódios o próprio Katsumi Daido é citado por membros da Foundation X. Como eu já citei em matérias passadas, não gosto quando o roteiro escolhe uma abordagem dessas para o filme. 

Sabe, onde eles citam algo interessante, ou aparece um personagem com uma trama nova e você tem que assistir o filme para poder entender os eventos futuros? Então… Felizmente “Kamen Rider W Forever” acaba tendo pouco impacto na narrativa principal, porém ainda deixa algumas perguntas no ar.

Kamen Rider W Forever

Ok, o que é essa Foundation X? Por questões de spoiler da narrativa principal da série eu não posso entrar muito em detalhes. Mas de maneira resumida posso dizer que essa fundação é parceira dos vilões Museum. 

Lembra a maleta na qual eu citei anteriormente? Ela aparece em alguns episódios onde o conteúdo dela é revelado, mas a princípio é irrelevante considerando que ela não tinha impacto para a série, mas sim só para o filme.

O vilão do filme quer conquistar todas as T2 Gaia Memory para poder trazer o inferno na Terra e para isso, precisa juntar todas as 26 memórias e utilizar seus poderes combinados para realizar seus objetivos.


“Kamen Rider W Forever” é definitivamente um dos filmes de “Kamen Rider W”. A história é decente e básica. O jeito que ela se desenvolve é interessante, e o design da armadura Kamen Rider Eternal, que é o traje do vilão, é muito, mas muito bonito. 

Entretanto, o melhor do filme sem sombra de dúvidas é a estreia de “Kamen Rider OOO”, onde recebemos uma demonstração rápida de seu traje, sua transformação, seu tema e seus poderes provenientes de umas medalhas místicas. Outro grande momento do filme foi a aparição da forma exclusiva que W recebe, uma forma dourada com asas muito esbeltas.

É normal ver o protagonista de uma nova temporada recentemente anunciada em um filme ou até em algum episódio de sua obra antecessora. Essa abordagem de crossover entre as temporadas ficou muito popular nessa nova era, gerando inúmeros filmes e especiais, criando também novos conteúdos para as respectivas obras.

Kamen Rider OOO

O filme de “Kamen Rider W” é bom. Ele não é ruim, nem mesmo péssimo, mas na minha opinião ele também não alcança o extraordinário, que nem o filme de Zero One. Para mim o filme de W é na medida, não é tão engraçado quanto a série original, mas o seu fluxo de narrativa é bom sim, sua história é bem boa e nesse filme é apresentado o próximo herói. Eu amei a estreia do OOO, mas vou deixar para falar mais dele no futuro, na sua própria análise.